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Foto do escritorDéa Cossalter

Cerveja e mulher, oba!

O que vem à sua cabeça quando ouve a palavra “cerveja”?

Talvez venham palavras relacionadas como: felicidade, liberdade, amigos, emoções particulares, etc.

Mas sabemos que geralmente não é bem assim.

Analisando um pouco do que temos disponível na história, vamos tentar entender o que aconteceu.

Mulheres na antiguidade eram as responsáveis pela feitura da cerveja. Elas cuidavam da família, da casa, da preparação dos alimentos (isso incluía a cerveja, já que era considerada alimento também) e para o homem o papel de provedor, o que saía de casa para prover. (Nada novo, né?)

A cerveja era ligada ao feminino, só que com conceitos bem diferentes dos de hoje.

Foto: Ninkasi, a Deusa da Cerveja

Em 1.800 a.C. existe o registro de um Hino à Ninkasi, a Deusa da Cerveja. A letra diz praticamente sobre uma receita de cerveja, além de exaltar Ninkasi. Antigamente não tínhamos conhecimento das leveduras, então a fermentação era associada às divindades.

Ninkasi significa: “A dama que enche nossas bocas”.

Foto: Deusa Ceres

Podemos citar também a Deusa “Ceres”, relacionada aos grãos, cereal, também componente da cerveja.

E não podemos deixar de citar Santa Hildegarda de Bigen, uma monja alemã nascida em 1098, que estava à frente do seu tempo, ainda mais sendo uma religiosa. Hildegarda era além de monja: escritora, mística, poeta, muito conhecedora de farmácia e uso de plantas medicinais (não foi médica, pois as mulheres não podiam estudar) e é dela que se tem o primeiro registro de descrição de como é um orgasmo feminino. (No século XII!).

Foto: Santa Hildegarda de Bigen

Foi ela (de acordo com registros) que falou a primeira vez no uso do Lúpulo na cerveja e suas propriedades bacteriostáticas e conservantes.

Falando em lúpulo, apenas as plantas femininas do lúpulo são utilizadas na fabricação da cerveja, aproveitando seus óleos e resinas.

Voltemos: na antiguidade a cerveja que as mulheres fabricavam também eram vendidas/negociadas a quem interessasse. Quando tinha cerveja pronta, era colocada na porta da casa uma “haste com folhas na ponta” (vassoura? Ohh daí vem as bruxas? Tem sobre isso no Blog) e desse modo vendiam algum excedente. Assim foi por um período.

E então veio a revolução industrial (1.840) e com ela o início da mudança no cenário geral.

Com a implementação de maquinário e tecnologia, as mulheres foram deixadas de fora, pois, o conceito era de que mulheres não teriam habilidade e entendimento para lidar com máquinas e tecnologias.

A produção de cervejas passa a ser em grande escala e a ser dominada pelos homens. Ora, se antes na história foi observado que havia interesse, procura e possível renda, então #partiulucrar. Retirada das mãos femininas, assim foi.

A indústria da cerveja juntamente com a publicidade, fizeram da mulher também um produto a ser “consumido” por homens, assim como a cerveja. Foco no universo masculino e suas “necessidades”.

Foto: Google Imagens

Comerciais de mal gosto, colocando e reforçando a mulher como produto. Mas também não estamos falando em qualquer mulher, hein! Tem que ser a mulher magra, corpo definido, seios fartos, bundão, barriga negativa, cabelos longos e loira (geralmente, associada a cor da cerveja com direito a trocadilhos). Padrões esses criados também por uma indústria, a da beleza, para que você dê seu dinheirinho a ela para ser feliz e desejada.

Como já sabemos, a “grande massa” é o interesse da indústria por motivos óbvios e em parceria com a publicidade, também por motivos óbvios. Em algum momento vemos que marcas de cervejas mais acessíveis, tendem a ser mais apelativas em seus comerciais dentro de um contexto socioeconômicos. Ah Andrea, mas é cultural! É cultural também, assim foi criada. Porém nada que não possa ser modificada com informação, já que nem tudo que é cultural é bom e aceitável para todos.

Mas grandes marcas destinadas a outros tipos de público também cometem sexismo e até mesmo racismo.

Algumas cervejarias artesanais e de pequena escala também não estão fora dessa, criando às vezes rótulos e nomes machistas.

Foto: Google Imagens

Posturas machistas de “entendedores” de cerveja na internet, temos também.

Hoje as mulheres vêm retomando o universo cervejeiro de várias maneiras. Na publicidade, na administração, cursos. Trabalhos relacionados a elaboração de carta de cervejas para estabelecimentos, orientação aos clientes, vendas diretas e indiretas, carregar sacos de malte dentro das fábricas, degustação dirigida, workshops, etc.

Muitas mulheres estão se formando Sommelières em cervejas e adentrando o mercado cervejeiro, mas ainda falta muito conhecimento e profissionalismo por parte de vários estabelecimentos, já que a maioria é dominada por homens.

Algumas marcas estão tentando alguma modificação na postura por pressão de parte da população feminina e CONAR (órgão que fiscaliza as propagandas), mas o processo é lento e muito estrago já foi feito.

Fica a reflexão para a ação em tempos de mudanças tão rápidas em alguns setores e ainda “engessadas” em outros.

Enquanto isso, continuemos a buscar conhecimento e a degustar nossa tão amada cerveja.

“A ignorância é vizinha da maldade” (Provérbio Árabe).

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